Atraso nas vendas de soja derruba preços do frete rodoviário

Por Redação em 21/03/2024 às 10:54:47

O atraso na comercialização da soja em decorrência da queda das cotações desde meados do ano passado derrubou os preços dos fretes rodoviários nas principais rotas do agronegócio no país. Em comparação a igual período de 2023, o recuo está entre 15% e 20%, de acordo com levantamento da EsalqLog, que considera os fretes no mês de fevereiro, feito a pedido do Valor. Com os produtores segurando as vendas, à espera de recuperação dos preços, os fluxos da soja para os portos ou para as esmagadoras estão represados, de acordo com Fernando Bastiani, pesquisador da EsalqLog.

"Em fevereiro, alguns poucos pontos apresentaram aumento de preços, mas só um ou dois dias, quando a colheita na região ficava concentrada", afirma em entrevista ao Valor.

De Sorriso a Rondonópolis, ambas em Mato Grosso, o preço médio do frete rodoviário estava em R$ 175,64 em fevereiro, na comparação com R$ 210 no mesmo mês de 2023. De Sorriso a Itaituba (PA), o valor praticado no último mês era de R$ 264,89 em média, com queda de 16,6% em relação a 2023.

A única rota com aumento de preços anual está no Rio Grande do Sul, Estado que promete uma colheita quase 70% maior na atual safra, a 2023/24, após uma quebra na produção no ciclo 2022/23. Segundo a EsalqLog, de Cruz Alta para Rio Grande, o valor médio em fevereiro ficou em R$ 132,86 a tonelada, em comparação a R$ 123,20 no mesmo mês de 2023.

A Endered Repom, plataforma que conecta caminhoneiros e empresas, reitera os dados da EsalqLog. Segundo índice criado pela empresa, o preço médio do frete por quilômetro rodado em fevereiro ficou em R$ 6,29, queda de 1,1% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Vinicios Fernandes, diretor da Edenred Repom, afirma que o mercado de fretes entrou no "período da soja", cuja comercialização está atrasada em relação ao ano passado. "Isso significa que ainda não há um grande fluxo de escoamento desse produto no mercado e isso se reflete no frete".

André Pessôa, diretor da Agroconsult, disse ao Valor, na semana passada, que o comércio de soja nesta época do ano deveria estar entre 40% e 50% da estimativa de colheita total. No entanto, ainda não passa de 35%. "É muito pouco para quem não tem condição de armazenagem, não tem juros compatíveis para carregar estoque."

Nos cálculos de Pessôa, 35% de safra comercializada antecipadamente não cobre os custos variáveis da atividade, como sementes, defensivos e fertilizantes. "Algumas regiões estão com apenas 15%", afirmou.

Outras consultorias, como a Datagro, estimam que as negociações de soja não passaram de 33% da expectativa total de colheita, bem inferior à média para o período de 48,5% e ainda mais distante do recorde de comercialização para o período na safra 2020/21, de 62,6%.

O economista da Datagro Grãos, Flávio Roberto de França Junior, ressalta que o ritmo mais lento na comercialização da soja está ligado à queda generalizada dos preços em fevereiro.

"Embora os produtores até tenham necessidade maior de venda em março para cumprir compromissos financeiros, em função dos baixos preços, a tendência é que as vendas sigam limitadas ao estritamente necessário", diz.

Para Fernando Bastiani, da EsalqLog, não há nada no horizonte de curto prazo que mude o cenário para os valores de frete. E a expectativa é que os preços do frete para transporte do milho da safrinha também sejam cerca de 15% mais baratos que no ano passado.

"Em junho e julho os preços [do frete] costumam subir novamente com a colheita do milho safrinha. Mas com o atraso no plantio, a produção tende a ser menor e a pressão por caminhões também", avalia.

O pesquisador observa ainda que o preço do combustível tem se mantido estável, outro fator que favorece a manutenção dos valores cobrados nos fretes. "Este ano, voltaremos ao comportamento padrão do mercado, com os meses de entressafra marcando uma queda nos preços do frete. Não aconteceu nos últimos dois anos em função da supersafra brasileira que foi transportada o ano todo", afirma, em referência à produção recorde de 154,6 milhões de toneladas na temporada 2022/23.

Fonte: GR

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