Amaggi quer prêmio para produtor com práticas sustentáveis

Por Redação em 25/03/2024 às 10:00:06

Maior trading brasileira de grãos, a Amaggi está testando em suas fazendas métodos de remuneração aos produtores que preservam mais do que a lei obriga. A ideia é, no futuro, levar aos seus fornecedores de grãos uma cesta de oportunidades de pagamento por práticas sustentáveis. O plano faz parte de sua estratégia para alcançar o compromisso de neutralizar suas emissões de gases de efeito estufa até 2050.

Neste mês, a companhia recebeu do Carbon Disclosure Project (CDP) nota "B" na avaliação sobre mudanças climáticas e "A-" na avaliação sobre florestas, de uma escala de "A" a "D-". O projeto foi criado por instituições financeiras para avaliar os esforços de sustentabilidade das empresas.

Em janeiro, a Amaggi formalizou à Science-Based Targets iniciative (SBTi) suas metas específicas relacionadas ao compromisso de neutralidade de carbono. A organização ainda precisa avaliá-las, o que deve ocorrer até junho, segundo Juliana Lopes, diretora de ESG e compliance da Amaggi.

As metas compreendem redução de emissões em três escopos. O escopo 1 envolve emissões das operações da empresa; o escopo 2 abrange as emissões da energia consumida pela companhia; e o escopo 3 são as emissões que ocorrem na cadeia de fornecimento — no caso, dos fornecedores de soja à trading.

Enquanto aguarda a validação, a empresa já está testando projetos, afirma Lopes. Uma das iniciativas são testes de metodologias de geração de créditos de carbono no campo. "É algo que eu posso fazer um teste em nossa produção [agrícola da Amaggi], para eu ter mais certeza do que posso levar ao produtor de forma muito robusta e com credibilidade. Não queremos prometer algo que não sabemos como vai se comportar", diz. A companhia deve avaliar as características dos contratos, os riscos envolvidos e os ganhos possíveis.

A Amaggi também está estudando a dinâmica de programas de pagamento por serviços ambientais — uma alternativa ao mercado de carbono. No ano passado, a companhia firmou contrato com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) no âmbito do programa Conserv que prevê o pagamento à Amaggi para preservar 2,2 mil hectares de vegetação nativa em uma fazenda em Campo Novo do Parecis (MT), que hoje excedem a obrigação de preservação de reserva legal da propriedade.

Os recursos que a Amaggi recebeu saíram de fundos internacionais, sobretudo governamentais. Agora, a Amaggi quer escalar a solução para seus produtores, mas considerando também outros tipos de investidores.

Outra possibilidade de remunerar o produtor é atrelar à soja fornecida um "selo" que garanta que a produção seja neutra em carbono. A Embrapa já desenvolveu essa solução, mas segundo a diretora da Amaggi, sua aplicação envolve desafios, como a análise científica de como se comportam as emissões de um sistema produtivo a céu aberto ao longo do tempo.

"Não posso criar um modelo que me dê indicadores de fluxo de carbono no solo que não analise quanto tive de chuvas em cada safra. Porque a produtividade está ligada à chuva também. Então só tenho uma tendência científica com um base de, talvez, dez anos. Senão, analiso incorretamente uma mudança de emissões de uma safra para outra", defende.

Para Lopes, não existe uma "bala de prata" para estimular os produtores a conservarem biomas e adotarem práticas de mitigação. "Para alguns, o pagamento por serviços ambientais pode ser mais adequado, para outros talvez o mercado de carbono seja mais adequado, com a perspectiva de atrelar o cálculo da pegada de carbono ao próprio produto."


Fonte: Globo Rural

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