Cadeias típicas "giram" 20% do agro da Amazônia

Por Redação em 06/04/2024 às 09:37:52

As cadeias de produção de alimentos tradicionais na Amazônia, como a do açaí e da mandioca, ocupam 13% da área de produção agropecuária no bioma, mas têm uma participação maior no valor de produção local, que chega a 20%. Já os grãos ocupam 86% da área e representam 80% da renda.

A produção agrícola em todo o bioma somou R$ 118,5 bilhões em 2022. Desse total, as cadeias tradicionais responderam por R$ 24,4 bilhões, enquanto soja, milho e algodão renderam R$ 94,1 bilhões. Os dados são da Produção Agrícola Municipal (PAM), do IBGE, e foram analisados pelo Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (OCBio/FGV).

A diferença entre as cadeias é bem demarcada pela geografia. Quando são desconsiderados os municípios de Mato Grosso — principal Estado produtor de grãos do país — que fazem parte do bioma Amazônia, o valor de produção dos produtos tradicionais soma R$ 21,9 bilhões, enquanto o valor dos grãos nesses municípios fora de Mato Grosso é menor, de R$ 19,8 bilhões.

Já a ocupação de área de cada cadeia é distinta. Em todo o bioma amazônico, as commodities ocupam 11,2 milhões de hectares, enquanto os produtos típicos ocupam 1,8 milhão de hectares. Se Mato Grosso for retirado das contas, a área de grãos e fibras na Amazônia soma 2,5 milhões de hectares, e os demais produtos, 1,8 milhão de hectares.

A diferença é explicada pelo fato de que 77% da soja, 85% do milho e 96% do algodão produzidos no bioma estão em municípios mato-grossenses. Já praticamente toda a colheita de açaí, mandioca e café amazônicos ocorre fora de Mato Grosso.

Apesar da discrepância de participação na geração de renda no bioma, os pesquisadores do OCBio defendem que a intenção do governo federal de estimular a bioeconomia amazônica precisa abarcar as diferentes realidades.

"Os grãos trazem desenvolvimento para os municípios, mas não podemos desperdiçar os produtos locais", afirma a pesquisadora Roberta Possamai, ao Valor.

Talita Pinto, coordenadora de projetos do OCBio, afirma que não existe uma definição universal para bioeconomia, mas defende que as políticas públicas precisam ser pensadas para estimular uma produção sustentável e que gere renda para as comunidades locais que dependem da riqueza da floresta.

"Precisamos parar de olhar de maneira romântica a floresta, entender que a preservação é necessária, mas o desenvolvimento dessa população precisa receber o mesmo valor", defende.

Para ela, um plano de bioeconomia precisa estimular a difusão de conhecimento e de modelos cooperativistas que façam essas cadeias amazônicas ganharem escala e conquistarem mercados de valor agregado, sem tirar suas características de produtos da biodiversidade. "Precisamos de políticas públicas que foquem em educação técnica e geração de conhecimento específico", frisa.

E, apesar da importância ambiental e social das culturas tradicionais da Amazônia, a coordenadora do OCBio também defende que a produção de commodities pode estar inserida em um plano de bioeconomia.

Para Talita Pinto, o potencial que o setor agropecuário tem para recuperar pastagens e adotar técnicas sustentáveis é "gigante", e o agronegócio já mostrou que, com conhecimento técnico, é possível driblar características que não são ideais para produção de algumas culturas.

Fonte: Globo Rural

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