Safra de amendoim deve ser maior, mas falta de chuva frustra produtores

Por Redação em 12/02/2024 às 13:21:06

Com a colheita do amendoim chegando à fase final em São Paulo, o maior estado produtor do Brasil, com cerca de 90% da produção total, os agricultores que investem na cultura estão frustrados. A falta de chuvas afetou a produtividade das lavouras, reduzindo o volume da colheita da oleaginosa.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou novas projeções da safra 2023/24, que corroboram a percepção dos produtores que conversaram com a Globo Rural em Itajubá (SP). Neste ciclo, apesar do volume poder chegar a 3,8% mais do que o ciclo anterior (o equivalente a 927 mil toneladas), o sentimento é de frustração, diante do que era esperado.

À época do plantio, quando foi semeada uma área 15% maior, a expectativa era alcançar um volume até 6% superior a 22/23 (de acordo com projeções anteriores da divulgadas pela Conab).

O problema é a falta de chuvas que persiste na principal região produtora, que contempla Tupã, Marília, Jaboticabal, Assis e Bariri, entre outros municípios. Mesmo aqueles que optaram por um ciclo produtivo mais longo, não estão conseguindo contar com a chuva necessária. A produtividade, que em 22/23 ficou em 4,04t/ha, deve ficar em torno de 3,64t/ha neste ano.

"O prejuízo pode ser tanto quantitativo, como agora já se espera, quanto qualitativo, no que ainda há uma esperança", afirma Airton Luiz Bonati, produtor de Bariri.

Há quatro anos, ele cultiva quatro hectares. Segundo Bonati 2023 foi o melhor ano para o amendoim. "Gostaríamos de continuar crescendo em produtividade, com a escolha correta de sementes e manejo adequado, mas sem a chuva não será possível", afirma.

Produção é limitada e exportação segue em alta

Mesmo que a produção fique aquém do esperado, o mercado de amendoim deve seguir aquecido, com cotações altas, seguindo análise do Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo.

"Ano a ano, o Brasil vem incrementando sua participação no mercado internacional de amendoim in natura, óleo e farelo, e a tendência é continuar conquistando espaço, já que as importações mundiais do produto estão crescendo cerca de 3% ao ano. É aí que o Brasil tem oportunidade de expandir sua atuação", disse à Globo Rural, Renata Martins Sampaio, pesquisadora do IEA.

De acordo a Conab, no estado de São Paulo, principal produtor de amendoim do país, com 210 mil hectares plantados, o cenário positivo tem atraído inclusive agricultores que investem na cultura como primeira opção, e não mais uma alternativa como rotação para a cana-de-açúcar.

Dados divulgados pelo IEA destacam que em 2023 o Brasil continuou crescendo no setor internacional de amendoim. Quando comparado a 2022, aumentou 4,28% no volume exportado e 33,40% nos valores. Foram 297 mil toneladas exportadas de amendoim em grão, que somaram US$ 443 mi.

Os principais destinos do amendoim em grão ficaram concentrados em três países: Rússia (28,31%), Argélia (23,59%) e Holanda (9,56%). "Além desses três, que juntos somam 61% das exportações, outros 87 países receberam amendoim in natura brasileiro e podem ter seu volume aumentado a curto prazo. As portas estão abertas e o fundamental é que o Brasil tenha volume para ofertar", avalia Renata".

Hoje, a produção exportada tem origem principalmente na cidade de Tupã (27,38%), Borborema (16,85%) e Parapuã (8,57%).

Óleo de amendoin

Para o óleo de amendoim em bruto, o ano de 2023 registrou queda nas exportações, quando comparado a 2022, segundo o IEA. Em volume, a retração foi de 36,97% e, para os valores, de 34,71%. As cotações, no entanto, mantiveram-se altas, em torno de 56% superiores aos patamares praticados em 2019 – o que amortizou a queda.

Renata Martins Sampaio, pesquisadora do IEA, comenta que os resultados estão atrelados, principalmente ao comportamento da China, destino de 80% do óleo de amendoim brasileiro e que, em 2023, reduziu 40% das suas importações. O montante acabou ficando em 68 mil toneladas, dias de 114 mil toneladas em 2022.

A Itália, que respondeu por 18% das exportações brasileiras de óleo de amendoim bruto, registrou retração de 20,65%. Juntas, China e Itália correspondem a 98% das exportações de óleo de amendoim bruto do Brasil, mesmo sejam atendidos ainda a 35 outros países, como Holanda, Estados Unidos, Canadá e Japão.

A produção de óleo bruto fica principalmente nos municípios paulistas de Itaju e Catanduva. Juntos, responderam por 54% do total exportado em 2023.

Rodrigo Chitarelli, CEO da CRAS Brasil, uma das principais processadoras de óleo de amendoim do Brasil, comenta que, "apesar de 2023 ter sido marcado pela retração do interesse chinês, deve-se levar em consideração o contexto do setor, cuja alta cotação, que foi mantida em todo o mundo, destaca a importância da produção e negociação a médio e longo prazo".

"Há uma conjuntura favorável para o desenvolvimento e evolução da cultura no Brasil que, num segundo momento, consolidará ainda mais nossa presença externa. Trabalhamos com esse objetivo, atentos ao alto valor agregado dos produtos", avalia.

A CRAS Brasil, cuja sede fica em Itaju, exportou 28 mil toneladas de óleo de amendoim bruto em 2023 (30 % do share nacional) e comercializou 40 mil toneladas de farelo de amendoim.

"O mercado do farelo ainda é prioritariamente nacional, mas já trabalhamos junto a comissões internacionais, inclusive em viagens recentes, para tratativa de abertura de mercados. A China, que já importa nosso óleo, é um mercado de extremo valor e interesse. Como o farelo de soja teve entrada permitida em 2022, esperamos seguir pelo mesmo caminho em breve", diz Chitarelli.

De olho nas oportunidades a curto e médio prazo, a CRAS Brasil já trabalha na expansão da fábrica. Com investimento de R$ 20 milhões já aprovados, a planta de Itaju deve ser ampliada ainda neste ano, tendo capacidade produtiva aumentada para 40 mil toneladas de óleo de amendoim / ano e 60 mil toneladas de farelo de amendoim/ano.

"Com infraestrutura adequada, incentivo à produção no entorno e negociações internacionais encaminhadas, a CRAS deve crescer 20% ao ano", finaliza.


Fonte: GR

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