Fávaro prepara política para evitar "crise iminente" no agronegócio

Por Redação em 25/01/2024 às 11:17:25

A combinação da previsão de quebra da safra de grãos no Brasil e o achatamento dos preços internacionais das commodities formou um cenário tão raro e complexo quanto potencialmente prejudicial aos produtores rurais e desafiador para a política agrícola em 2024, na avaliação do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.

O foco da Pasta será antever a "crise iminente" no campo e anunciar ações de ajuda aos produtores antes do fim da colheita da soja. A intenção é evitar agir apenas depois que se instale um ambiente de endividamento e de seus efeitos colaterais. O ministro também já considera que a segunda safra de milho será menor que o projetado inicialmente.

Mobilização do governo

Fávaro já colocou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a par da situação em um telefonema na terça-feira (23/1) e vai se reunir na próxima semana com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir medidas para minimizar os impactos financeiros aos produtores.

Com restrição orçamentária e dados ainda incipientes sobre os prejuízos na colheita de soja recém-iniciada pelo país, as equipes técnicas do governo fazem contas e apenas projetam cenários para possíveis prorrogações de parcelas de investimentos, criação de novas linhas para custeio e implementação de ações de apoio à comercialização.

Minimizar impactos

Fávaro admite que a "rentabilidade dessa safra já foi embora até para quem tem boa produtividade" — por conta dos custos de produção ainda altos durante o plantio e os impactos causados pelo clima no rendimento médio das lavouras — e que 2024 será um ano atípico. "Vamos jogar com aquilo que temos e minimizar os impactos para que possamos voltar a crescer na safra 2024/25", disse o ministro em entrevista à reportagem. "Agora temos que fazer de tudo para passar com menos impacto possível", completou.

"Boa parte dos produtores vão colher menos e alguns muito menos que no ano passado. A quebra de produção com preços baixos acende uma luz no mínimo amarela senão vermelha para a adoção de providências muito rápidas. É um cenário mais raro, mas que quando acontece se torna muito grave", avaliou Fávaro.

Medidas cogitadas

O ministro reforçou que uma das propostas à mesa, no momento, é prorrogar as parcelas de investimentos, o que pode gerar custos ao Tesouro Nacional. As análises internas tentam levantar quantos e quais contratos podem precisar desse alongamento de prazo, já que a produção não será atingida com a mesma intensidade em algumas regiões do país, e quais são os juros praticados nesses financiamentos. A equipe técnica avalia, por exemplo, o volume de operações contratadas desde a safra 2016/17 nas linhas do Moderfrota, Pronamp Investimento e Inovagro e que vencem em 2024.

"Com a perspectiva de queda da Selic, se a taxa ficar mais próxima dos juros cobrados nessas operações de anos anteriores, a subvenção será pequena. Podemos tentar achar um espaço aqui", avaliou Fávaro. Ele pondera que o orçamento é restrito e que não fará nada que possa prejudicar as metas fiscais do governo. "É nosso papel começar a construir os cenários e as possibilidades de acordo com a capacidade do Tesouro Nacional, com o objetivo sempre de antecipar".

O ministro disse que as medidas não podem demorar, afim de evitar efeitos colaterais no campo, como inadimplência, negativação de produtores, falta de acesso a créditos novos e aumento das dívidas. "Estamos trabalhando com o cenário de que, até o fim da safra, mas antes de haver inadimplência, as ações já estejam disponíveis de acordo com a capacidade do governo de poder ajudar", apontou. Algumas medidas devem ser anunciadas antes de março, disse Fávaro.

O Ministério da Agricultura também articula com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a criação da linha em dólar com prazo alongado para capital de giro, que poderá atender revendas e demais empresas a dar um fôlego aos produtores rurais que custeiam suas atividades com empréstimos privados.

Fávaro comentou, no entanto, que pode haver outras medidas, mas não deu detalhes. "Talvez não podemos pensar só nessa linha, pois existem produtores que não têm o hedge natural [em dólar]". Também está no radar a possibilidade de apoiar a comercialização. O histórico é favorável nesse ponto, pois o governo só precisou intervir em dois momentos nas últimas décadas, quando a cotação da soja ficou abaixo do preço mínimo.

"Não precisa ser nenhum especialista em análise de safra para saber que os preços não tendem a subir e que a safra não vai ser do tamanho do ano passado", indicou. Fávaro disse que seria um "desastre" a soja abaixo do preço mínimo, hoje em R$ 86,54 a saca de 60 quilos, mas que não vislumbra essa necessidade. Em algumas praças, a cotação da oleaginosa já está abaixo de R$ 100 a saca.

Safrinha comprometida

A possível quebra da safra de soja também deve comprometer a segunda safra de milho, já que a janela ideal para plantio do cereal pode ser perdida. "Quem ficou com a janela comprometida para plantar soja está com a janela comprometida para o milho. Não há como estimular o produtor a usar alta tecnologia fora da janela ideal", apontou Fávaro. "Temos que ter consciência de que a segunda safra pode não ser do tamanho que era previsto também, mas vamos ter a clareza mais adiante, por volta de março", concluiu.

Fonte: GR

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