Queda de preços afeta balanços de empresas do agronegócio

Por Redação em 20/11/2023 às 17:39:58

A última temporada de balanços trimestrais foi marcada por altos e baixos entre as empresas do agronegócio, mas um ponto se destacou: a receita da maioria diminuiu em relação ao intervalo de julho a setembro de 2022. Analistas ouvidos pela reportagem acreditam que a queda dos preços de diferentes commodities deixou os resultados do setor mais amargos, e o clima é de incertezas sobre o que vem pela frente.

Levantamento do Valor Data com base nos balanços de 25 companhias mostra que a soma das receitas obtidas no trimestre totalizou R$ 187,5 bilhões, queda de 5,5% no comparativo anual. O período avaliado é o terceiro trimestre do ano, exceto para as usinas, que consideram julho a setembro como o segundo trimestre da safra canavieira.

Entre as 25 empresas, 19 tiveram redução na receita. A queda mais acentuada foi da AgroGalaxy, de 22,9%. A mais branda foi a da Marfrig, de 0,8%.

Na outra ponta, entre as seis que expandiram o faturamento do período, o ganho de produtividade e o aumento no volume de vendas de grãos foram determinantes para compensar a redução nos preços. Saíram beneficiadas com isso a Agribrasil, 3Tentos e SLC Agrícola, com receitas que subiram respectivos 27,4%, 22,7% e 21,8%.

Ciclo de commodities

"As empresas foram afetadas pelo ciclo de preços de commodities. A maioria [dos preços] estava com um patamar menor", disse o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.

No caso da carne bovina, o analista do Itaú BBA Gustavo Troyano lembrou que, em 2022, os custos de produção eram muito elevados, com a arroba do boi na casa dos R$ 330. "E com uma arroba mais cara, você tem que performar um preço mais alto", ponderou.

Agora, Troyano acredita que é improvável que os valores da tonelada exportada subam ao patamar do ano passado, porque o custo com o gado também está menor, em função do ciclo pecuário de maior oferta. Soma-se a isso a redução nos valores da carne exportada à China. Saber se os chineses conseguirão avançar no valor pago "é a pergunta de um milhão de dólares", acrescentou.

O analista ressaltou, no entanto, os frigoríficos podem conseguir margens melhores, dada a diminuição nas despesas, seja com a arroba do boi no Brasil ou nos grãos usados na ração de aves e suínos.

No caso da AgroGalaxy, uma combinação de fatores afetou a receita da revenda. Além da queda nos preços dos insumos, de 44%, a volatilidade das commodities e os extremos climáticos, que obrigaram produtores a mudar o calendário de plantio, também afetaram o desempenho.

Queda de produtividade no campo

Essa mudança na época do plantio da soja já leva a Safras & Mercado a reduzir as estimativas de produtividade, no Norte e Centro-Oeste por falta de chuvas, e no Sul, por excesso. Apesar disso, o analista da consultoria, Luiz Fernando Roque, afirmou que é cedo para cravar que a produção de soja será menor que a da safra passada.

Mas o atraso no plantio da soja tira os produtores da janela ideal para a semeadura da segunda safra [de milho], no início de 2024, outro fator que pode atingir os resultados das empresas de insumos e grãos no ano que vem.

"As compras de sementes para o milho segunda safra estão 33% atrasadas em comparação à média dos últimos três anos", disse o analista de inteligência de mercado da Agrinvest, Jeferson Souza.

O especialista destacou que a SLC, por exemplo, anunciou anteriormente uma redução na área de milho 2023/24, em função da rentabilidade menor do cereal. Agora, a SLC e outras empresas de grãos também correm o risco de enfrentar quedas na produtividade das colheitas por causa do clima adverso.

As receitas das usinas, por sua vez, foram pressionadas pelo recuo no valor do etanol, ainda que os altos preços do açúcar tenham limitado as perdas. Para a frente, o BTG Pactual estimou em relatório que a São Martinho, por exemplo, pode ver "preços mais elevados do açúcar e, possivelmente, do etanol (que) devem fluir gradualmente através do (próximo) resultado". Segundo o banco, a companhia deverá vender a maior parte da produção acumulada na safra, em momento em que o consumo interno de etanol reage.

Fonte: Globo Rural

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