Agro é um dos setores mais afetados pelas mudanças climáticas e um dos que mais podem oferecer saídas

Por Redação em 13/11/2023 às 11:07:37

A casa de madeira do agricultor Delmar Rodrigues, nas vizinhanças de Manaus, descansa sobre palafitas, que, no início de outubro, pareciam ter pouca serventia. O liso do Solimões fica logo à porta em época de cheia do rio, mas, naquele momento, o quadro deu para estarrecer toda a gente: como as chuvas sumiram a partir de agosto, Delmar tinha de vencer mais de 150 metros de barro e lama para encontrar a água que costuma ser quintal.

"Estamos acostumados com as cheias, com a vazante, acontece todo ano. Mas dessa vez foi diferente", disse. O milho cresceu pouco, as cebolas estavam pequenas e a lavoura de melancia foi abandonada antes de as plantas darem frutos. "Foi rápido. E foi forte."

Eis a força em números: em setembro, a superfície de água dos municípios amazonenses era de 3,5 milhões de hectares, uma área quase 30% menor que a de um ano antes. A estranheza dessa verdade contrastava com o que se viu semanas antes no outro extremo do país.

No início de setembro, a formação de um novo ciclone extratropical – um fenômeno relativamente comum, com ventos que muitas vezes nem sequer chegam à costa – desencadeou uma enchente no Rio Grande do Sul que destruiu casas e lavouras e causou a morte de mais de 50 pessoas.

Os prejuízos para o agro passaram de R$ 1 bilhão, segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CMN). "Não foi uma enchente, foi uma catástrofe", descreveu Milton Stahl dos Santos, diretor da Granja Avícola Bom Frango, em Venâncio Aires, a 130 quilômetros de Porto Alegre. Dentro do frigorífico, contou o empresário, as águas chegaram a 1,20 metro acima do nível do solo.

Seca na Amazônia e ciclone no Sul não são fenômenos inéditos. O que diferencia o quadro atual do que se via no passado, entretanto, é que esses problemas são cada vez mais frequentes e intensos. Uma onda de frio, ou mesmo uma série delas, não prova a inexistência do aquecimento global. Na verdade, uma das consequências do aumento da temperatura do planeta é a intensificação dos extremos climáticos: ora o castigo chega com uma seca prolongada e severa, ora com chuvas que não estiam.

Dito de outra forma, o clima "normal" é, hoje, artigo cada vez mais raro. "Isso significa que a atividade agropecuária está sempre sob efeito adverso, o que é bastante desafiador para os produtores", afirma Natália Fernandes, coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Na declaração, a especialista fez menção específica ao El Niño e ao La Niña, fenômenos naturais que também têm agido com recorrência inédita.

Fonte: Globo Rural

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