Mercado de trabalho do agro está menor e mais qualificado

Por Redação em 30/10/2023 às 18:40:53

Menor e mais qualificado. Esse é o retrato do mercado de trabalho do agronegócio brasileiro, que registrou uma queda na população ocupada entre 2016 e 2023, à medida que a tecnologia avançou e a informalidade caiu, mostra o novo levantamento do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro ) obtido pelo Valor.

O estudo, que considera dados da agropecuária (dentro da porteira) e da agroindústria, também indica que a remuneração dos trabalhadores do setor evoluiu em escala mais rápida do que nos demais setores da economia como um todo, embora os salários ainda estejam abaixo da média nacional.

Entre o segundo trimestre de 2016, quando começou a série histórica da FGV, e o mesmo período de 2023, o agro perdeu 558 mil postos de trabalho. Isso significa um recuo de 3,9%, para 13,78 milhões de pessoas.

A agropecuária foi a grande responsável por essa redução, com queda de 9,6% no intervalo avaliado, pressionada tanto pela agricultura (-9,7%) quanto pela pecuária (-9,5%).

"Mas quando olhamos o mercado de trabalho, não podemos ver apenas o número de postos. Percebemos que o que fez o número total de ocupações diminuir foi a queda nos empregos informais por uma questão estrutural do setor", afirma Roberta Possamai, pesquisadora do FGV Agro.

Segundo ela, a incorporação de tecnologias cresceu no campo nos últimos anos, assim como a mecanização da colheita em algumas culturas, o que passou a demandar uma mão de obra mais qualificada. O mesmo movimento impulsionou o aumento de vagas formais, em detrimento dos informais, e melhores níveis de remuneração.

No segundo trimestre de 2023, o agro atingiu o maior número de pessoas ocupadas em vagas formais (5,7 milhões) e a maior taxa de formalidade (41,5%) para um segundo trimestre, considerando a série histórica da FGV.

Como comparação, o estudo mostra que no mercado de trabalho brasileiro como um todo, houve aumento das ocupações ao longo do período de 2016-2023 (+9,1%). Mas essa alta foi puxada, sobretudo, pelos informais, que registraram um crescimento de 12,4%. Os empregos formais cresceram também no Brasil, mas em uma proporção menor (+6,7%).

Olhando para dentro da porteira, a pesquisadora observa que na agricultura os empregos formais cresceram 17,6%, ao passo que os informais caíram 16,2% — puxando para cima o índice de formalidade do setor. Na pecuária, o cenário foi um pouco diferente, tanto as vagas formais (-4,1%) quanto informais (-11,1%) diminuíram.

Na agroindústria, um outro ângulo do mercado de trabalho aparece: aumentaram os postos formais (+5,47%) e os informais (+8,53%) entre o segundo trimestre de 2016 e o mesmo período de 2023. Entre abril e junho deste ano, os informais eram 1,78 milhão de pessoas nesse segmento do agro, e os funcionários com carteira assinada chegaram a 3,66 milhões.

Possamai observa que a agroindústria foi mais exposta a efeitos externos, como a pandemia da Covid-19 e a guerra na Ucrânia, que prejudicaram toda a indústria brasileira. Isso também contribuiu para o crescimento da informalidade.

"As condições da agroindústria, em geral, são melhores do que na indústria nacional como um todo. Mas seu desempenho é bem mais dependente do andamento da economia do país, do que na agropecuária, por exemplo, que é puxada mais pelas boas safras", afirma.

Ainda de acordo com o estudo, a dinâmica de maior formalização no agro também impulsionou a remuneração média do setor, que cresceu a passos mais rápidos do que a média nacional.

Entre o segundo trimestre de 2016 e o mesmo de 2023, a remuneração média paga aos trabalhadores do agro cresceu, em termos reais, 12,6%, passando de R$ 1.793,69 para R$ 2.018,99. No mesmo período, a remuneração média brasileira cresceu em um ritmo muito menor (4,3%), ao sair de R$ 2.719,44 para R$ 2.836,40.

Esse resultado foi puxado totalmente pela agropecuária, na qual empregados da agricultura (+25,9%) e da pecuária (+ 22,3%) contabilizaram salários maiores no período avaliado. A agroindústria não registrou aumento, pressionada pelo segmento de produtos alimentícios e bebidas, em que a remuneração caiu 6,9%.

Segundo números do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a agropecuária é o único setor da economia brasileira a ter ganhos expressivos de eficiência nas últimas décadas. Entre 1995 e 2022, a produtividade por hora trabalhada do segmento cresceu a uma média de 5,5% ao ano. No mesmo período, houve queda de 0,4% ao ano na indústria e alta de 0,2% nos serviços.

'Com evolução do setor, vi que podia ir além"

Na pequena São Pedro do Butiá (RS), Diego Goldschmidt conheceu a agricultura ainda criança, vendo os pais que realizavam serviços braçais na lavoura. Jovem, ele percebeu que o agronegócio no Brasil estava evoluindo muito rápido e que havia oportunidades na área de agronomia. Decidiu então se profissionalizar para trabalhar no setor.

Essa decisão foi fundamental para que o jovem gaúcho ingressasse anos depois na SLC Agrícola, como estagiário, e percorresse uma jornada dentro de uma das maiores empresas brasileiras do setor até o atual cargo de Coordenador de Produção Agrícola da Fazenda Pamplona (GO), da SLC.

Anos antes de imaginar que um dia atuaria na empresa, ele trabalhou na propriedade da família e depois prestando serviços na colheita e assistência técnica com máquinas em outras fazendas de pequeno porte. Também passou a viajar pelo Brasil nos períodos de safra exercendo essas atividades.

"Então, vi que podia ir além. O setor estava evoluindo muito rápido e vi que tinha oportunidade muito grande na área de agronomia. Hoje dizem que estão sobrando profissionais, mas naquele tempo não se falava nisso, e iniciei a faculdade em 2013", conta.

Em 2017, Goldschmidt entrou no programa de estágios da SLC e foi para o Mato Grosso, onde acompanhava todos os processos produtivos da propriedade rural. No ano seguinte, se tornou trainee, foi para Goiás e passou a atuar como braço direito do coordenador de produção da fazenda.

"Hoje eu sou o coordenador, responsável técnico por toda a produção dentro da fazenda em soja, milho, algodão, trigo, planejamento e execução das atividades, gestão das pessoas e custos, etc. Também estou no programa de gerência júnior da empresa, para assumir uma futuramente", diz.

Como gestor, afirma, uma das principais tarefas é deixar claro ao funcionário da lavoura que ele não será substituído por um robô.

Atualmente, além da manutenção da população rural no campo, as companhias do setor têm o desafio de atrair pessoas dos centros urbanos para empregos em áreas rurais, dado o crescimento de vagas para funcionários mais qualificados, ressalta Álvaro Dilli, diretor de RH, Sustentabilidade e TI da SLC Agrícola. "O Brasil está em uma outra onda, temos a missão de tornar o agro atraente", diz.

Um dos itens mais requisitados por funcionários são logística e infraestrutura, como internet para estudos e contato com a família.

Dilli afirma que nas cidades do interior ainda predomina o trabalhador rural com ensino médio incompleto, mas no Centro-Oeste esse quadro está mudando.

Segundo o executivo, um dos principais programas voltados para o desenvolvimento de funcionários da SLC é o de educação para jovens e adultos (EJA), para capacitar empregados que não têm ensino fundamental e médio completo, por meio de parcerias com secretarias municipais e estaduais.

Athena Milani, coordenadora de Diversidade, Inclusão e Aquisição de Talentos da Yara Brasil, de fertilizantes, afirma que as empresas do agro precisam se adaptar às novas demandas de trabalhadores. "Além de buscar profissionais qualificados, como agrônomos, engenheiros e técnicos especializados, é necessário investir na capacitação e formação de profissionais, pois nem sempre a demanda acompanha a oferta", diz.

Fonte: Globo Rural

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