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MERCADO

Em meio aos recordes de preço do cacau na bolsa, indústria busca ampliar oferta


Num cenário em que as cotações do cacau têm batido recordes dia após dia nas bolsas internacionais, gigantes chocolateiras que atuam no Brasil começam a ver os resultados de programas de revitalização e estímulo à cultura implementados por elas no país para aumentar a oferta.

Ontem, pela primeira vez na história, o contrato de cacau com vencimento em maio terminou o pregão cotado US$ 9.649 a tonelada, com alta diária de 7,94%, na bolsa de Nova York. Agora, analistas que antes enxergavam nos US$ 10 mil o pico de preços começam a vislumbrar valor ainda maior, diz Ale Delara, sócio da Pine Agronegócios.

"A colheita da safra principal na Costa do Marfim será a menor dos últimos 23 anos. A escassez de produto já leva analistas a enxergarem uma alta que pode levar o cacau a atingir os US$ 12 mil a tonelada em Nova York", afirma.

O que tem feito o cacau disparar são os déficits recorrentes na oferta internacional, uma vez que Costa do Marfim e Gana, os maiores produtores mundiais, enfrentam queda na colheita em decorrência de problemas climáticos e envelhecimento dos cacaueiros.

É de olho na oferta que multinacionais como Cargill e Nestlé têm investido em produções em áreas não tradicionais no Brasil, que antes de ser afetado pela vassoura-de-bruxa na década de 1980, chegou a ser um dos maiores produtores mundiais.

Em 2022, a Cargill e o grupo agrícola Schmidt se comprometeram a desembolsar R$ 5 milhões em cinco anos para plantar cacaueiros em 400 hectares em Riachão das Neves, no cerrado do oeste da Bahia. Dois anos depois, a parceria já colhe frutos.

"As mudas de cacau estão frutificando um pouco antes de completarem dois anos de plantadas. Entre março e abril são esperados frutos nas primeiras áreas após dois anos de plantio", afirma Laerte Moraes, diretor-geral de Alimentos e Ingredientes da Cargill na América do Sul.

A palavra-chave para a Cargill é produtividade. As mudas utilizadas são mais resilientes e precoces, e o ambiente, com luminosidade proporcionada pelo próprio bioma, potencializa a produção, segundo o executivo. Para ele, além do cacau fino da Bahia, produzido na cabruca (sombreado), que gera renda ao pequeno produtor, o Brasil precisa almejar alto rendimento.

A suíça Nestlé, que implantou no Brasil o Nestlé Cocoa Plan, enxerga a disparada nos preços do cacau como uma oportunidade dos produtores vinculados ao seu programa aumentarem sua renda. Ao mesmo tempo, tenta equilibrar o repasse ao consumidor final.

"Nós realizamos ações mitigadoras para ajustar o preço com responsabilidade e apenas quando necessário. Também nos preocupamos em entregar um portfólio amplo e que caiba no bolso dos consumidores", afirma Luís Collaço, diretor de ESG da Nestlé Brasil.

O Nestlé Cocoa Plan atende mais de 6.500 fazendas em oito Estados do Brasil e tem como meta adquirir 100% de cacau produzido com práticas sustentáveis a partir de 2025, patamar que está em 60% atualmente, segundo Collaço.

Os agricultores vinculados ao programa recebem prêmio pelo cacau produzido, que podem variar entre US$ 50 e US$ 150 por tonelada. Para isso, devem cumprir ao menos 14 dos 41 requisitos de sustentabilidade definidos pelo programa. "Quanto mais o produtor evolui no programa, maior é a premiação", afirma o executivo.

O Brasil processou em 2023 um volume de 220 mil toneladas e hoje é o sexto maior produtor da amêndoa no mundo. Um programa do Ministério da Agricultura, o Inova Cacau, também tem como meta ampliar a produção. O objetivo é atingir 400 mil toneladas até 2030.

O aumento da produção no Brasil poderia ajudar a amenizar o déficit global, que será de 374 mil toneladas em 2023/24, segundo a Organização Internacional do Cacau (ICCO, na sigla em inglês).

"Temos um cenário deficitário de oferta de amêndoas de cacau no mundo, e o Brasil pode ser uma das soluções desse déficit", afirma Anna Paula Losi, presidente-executiva da AIPC. Ela defende como estratégia o aumento da produtividade e diz que o Brasil é capaz de "produzir cacau sustentável e socialmente positivo".

Na avaliação de Lucimara Chiari, diretora da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), órgão do Ministério da Agricultura, se o Brasil investir "em renovação e expansão das árvores, podemos voltar ao posto dos três maiores produtores mundiais".

Globo Rural

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