A Bem Agro, startup que utiliza Inteligência Artificial (IA) e visão computacional para transformar dados em informações úteis para tomada de decisão no campo, captou R$ 10,2 milhões em uma rodada de investimento liderada pela gigante CNH, dona das marcas New Holland e Case IH. Participaram também Rural Ventures, MMAgro e Agroven.
Fundada em 2018, a agtech de Ribeirão Preto (SP) tem soluções para apoiar o produtor em todas as etapas do cultivo de grãos, fibras e cana-de-açúcar. Até hoje, a plataforma processou dados de mais de 5 milhões de hectares e tem 400 clientes ativos distribuídos em onze países.
A tecnologia desenvolvida pela startup cria 180 cenários possíveis, com o objetivo de reduzir o consumo de insumos e a ociosidade das máquinas e da mão de obra. Segundo a empresa, a tecnologia reduz em cerca de 80% o uso de defensivos e em 25% o número de manobras com maquinário em campo. Além disso, permite aumentar entre 5% e 10% o número de plantas na mesma área.
"Há uma competição muito grande para saber quem será o consolidador de dados do produtor, que não quer ter seis plataformas para acessar. Nós já temos tudo em um só lugar, o que nos permite desenvolver outras soluções com base nos dados", afirmou Johann Coelho, CEO da Bem Agro, em entrevista exclusiva à reportagem.
A aproximação da Bem Agro com a CNH ocorreu há seis anos, quando a startup estava começando a testar a tecnologia em usinas de cana-de-açúcar do país. Essa parceria facilitou a entrada das soluções da agtech no mercado internacional. "Vimos um potencial enorme e perguntamos por que não aplicar na Tailândia e em países da Ásia-Pacífico, que têm problemas iguais", disse Rafael Miotto, presidente da CNH para a América Latina, na entrevista.
Atualmente, a Bem Agro consegue se conectar às máquinas da CNH para extrair dados que enriquecem as projeções de cenário. Além disso, pode enviar as informações e mapas diretamente para o sistema das máquinas da multinacional americana, sem precisar passar por um computador.
Segundo Miotto, a companhia tem interesse em tecnologias como as da Bem Agro que ajudam seus clientes a ter margens maiores e a utilizar todo o potencial do maquinário agrícola. "Em anos como este, em que vivemos uma queda brutal dos preços das commodities, é preciso produzir com eficiência para sobreviver às oscilações", afirmou.
Questionado, Miotto disse que a CNH não quer ter acesso exclusivo às tecnologias da Bem Agro, mas, nos últimos anos, concorrentes diretos da empresa no mercado de máquinas agrícolas têm adquirido negócios de tecnologia para adicionar valor aos seus produtos.
No fim do ano passado, por exemplo, a americana AGCO comprou a divisão de agro da Trimble por US$ 2 bilhões, e, em 2017, a John Deere havia adquirido a Blue River, de automatização de equipamentos, por US$ 305 milhões.
De acordo com Johann Coelho, os recursos serão direcionados para avançar no desenvolvimento da plataforma, ampliar a equipe comercial e de pós-vendas, intensificar o processo de internacionalização da startup e aumentar sua participação de mercado.
Em outras duas rodadas, entre 2018 e 2023, a Bem Agro havia captado R$ 8 milhões.
Fonte: Globo Rural