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De onde vem o que eu como: batata, que já foi associada a bruxaria, hoje já pode ser 'plantada no ar'


Batata, que já foi associada a bruxaria, hoje já pode ser 'plantada no ar'
É o quarto alimento mais consumido no mundo. Confira curiosidades desse cultivo.


Quarto alimento mais consumido no mundo, depois do leite, trigo e arroz, a batata gerou muito rebuliço ao ser associada à bruxaria quando desembarcou na Europa, no século 16, trazida da América do Sul, por colonizadores.

A Igreja escocesa, por exemplo, chegou a proibir o seu cultivo por não estar mencionada na Bíblia, sendo ainda acusada de propagar doenças como tuberculose, raquitismo, sífilis e até mesmo a luxúria, conta a crítica gastronômica Danusia Barbara, em seu livro "Ao Vencedor, as Batatas!".

Entretanto, o "maior crime" da batata era ser semelhante a uma planta da sua família (Solanaceae) chamada belladona. Esta contém uma substância que era usada na época para fazer unguentos, pomadas medicinais, que, acreditava-se, davam a bruxas o poder de voar.

Centenas de anos depois, a história chega a ser cômica. Ninguém voa com batata, mas, quem diria, a ciência descobriu, no século 20, que o legume pode ser "plantado no ar", em uma técnica chamada de aeroponia.



Cultivo aeropônico da batata na CBA Sementes.


Neste método, as plantas ficam suspensas no ar em estufas, apoiadas pelo colo das raízes. O modelo é usado para produzir batatas-sementes, pequeninas, que, depois, são plantadas em uma lavoura tradicional, dando o legume que chega até a nossa mesa.

Dentre os seus benefícios está a economia de água e mais batata por planta (saiba mais sobre essa técnica e outros fatos históricos da batata abaixo, nesta reportagem).

No Brasil, o mercado de batatas movimenta R$ 9,3 bilhões por ano, com um terço da produção vindo de Minas Gerais. No mundo, o país ocupa o 21º lugar dentre os produtores. Na liderança, estão China e Índia, diz Natalino Shimoyama, presidente da Associação Brasileira da Batata (ABBA).



Batata não é inglesa! O tubérculo é nativo da América do Sul, da Cordilheira dos Andes.


Que 'bruxaria' é essa?

Na técnica de "plantar batatas no ar", mudas são colocadas em estufas e as plantas crescem a partir de uma nebulização (transformação da água em vapor) das raízes.

Na água, são colocados os nutrientes necessários para a planta crescer saudável: nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio, por exemplo. As raízes ficam em caixa escura, simulando o ambiente debaixo da terra.

Em 2018, o Jornal Nacional mostrou como funciona esse sistema na CBA Sementes, em Divinolândia (SP), a primeira empresa a produzir batata-semente em escala comercial, no Brasil. Veja no vídeo abaixo:

O processo de produzir batata-semente é importante porque não se planta o tubérculo direto na terra. É preciso, primeiro, produzir essas batatas menores, seja em vasos, em aeroponia ou hidroponia, detalha Thiago Factor, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Segundo ele, que foi um dos pesquisadores que trouxe a técnica para o Brasil, a aeroponia é, atualmente, o sistema com maior produtividade em relação aos sistemas tradicionais.

Enquanto no "plantio no ar" são produzidos de 40 a 60 tubérculos por planta, no sistema convencional, em vasos, são geradas de 5 a 10 batatas-sementes.

E as plantas crescem mais rápido: em 7 dias, a batata já está tuberizando na aeroponia, ao passo que, na terra, ela começa a se desenvolver em 40 dias.

"Isso acontece porque você otimiza a passagem dos nutrientes para a raiz. A água com os nutrientes vai direto para a raiz. Imagina se essa raiz estivesse no solo, com partícula de torrão, pedra, paus, impedindo o caminhamento livre dela", acrescenta Factor.



O sistema também gera uma economia de mais de 90% em relação aos modelos tradicionais.


Menos água e mais segura

O sistema também gera uma economia de mais de 90% em relação aos modelos tradicionais. " A aeroponia é um sistema fechado: à medida que a planta absorve os nutrientes, a água volta para o tanque. Você não perde ela por evaporação ou percolação", diz Factor.

A técnica garante ainda uma maior segurança fitossanitária. "Dentro de um ambiente fechado e telado, longe do solo, a incidência de pragas e doenças que podem danificar a semente é muito menor", diz.

Dá para consumir essa batata-semente?

A batata-semente pode ser consumida, pois ela nada mais é do que uma batata em tamanho menor.

É possível também produzir tubérculos maiores na aeroponia, mas, segundo Factor, o sistema não compensa para este tipo de produção por ter um custo mais alto do que o método convencional, devido aos equipamentos necessários.



batata-semente pode ser consumida, pois ela nada mais é do que uma batata em tamanho menor.


Reduzir custo de importação

Por outro lado, a aeroponia tem se mostrado vantajosa para os produtores que compram as sementes, não somente pela produtividade mencionada, como também pelo fato de reduzirem dependência da importação.

Atualmente, o Brasil compra cerca de 80% das sementes de fora, principalmente da Europa. E, com o dólar alto, esse custo tem pesado no bolso do produtor, pois o insumo importado custa o dobro.

O CEO da CBA Sementes, Lucas Pladevall Moreira, diz, inclusive, que a sua empresa participa de um projeto para zerar a importação de batata-semente de duas grandes indústrias que estão no Brasil. Uma delas é a PepsiCo, uma das principais compradoras da CBA.

"Com isso, vamos permitir que o Brasil consiga produzir batata-semente de qualidade, a um custo menor", afirma.

Veja 6 curiosidades sobre a batata



Batata não é inglesa!


Batata não é inglesa! Ela é nativa da América do Sul, da Cordilheira dos Andes, onde é cultivada há mais de 8 mil anos anos;

O tubérculo só chegou na Europa por volta de 1570, segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária (Embrapa);

No Brasil, ela recebeu o apelido de inglesa porque engenheiros britânicos que vieram participar da construção de ferrovias no país, a partir do século 19, exigiam batatas em suas refeições;

Depois de anos de má fama na Europa, o status da batata começou a mudar no reinado de Luís 16 (1754-1793), na França. Isso porque o farmacêutico Antoine Parmentier mostrou a segurança e os nutrientes do alimento, em estudos feitos durante a sua prisão na Prússia, na Guerra dos Sete Anos;

Parmentier acreditava que a batata tinha potencial de combater a fome e, por isso, convenceu o rei a bolar uma estratégia para convencer a população a plantar: em um terreno em Paris, mandou semear o tubérculo, com a vigilância de soldados durante o dia, sob o pretexto de que o alimento seria somente para a nobreza. À noite, a guarda deixava o local e as pessoas começaram a furtar o alimento;

O cultivo da batata como estratégia para combater a fome está presente atualmente em políticas públicas da China e Índia, por exemplo. Isso porque, em um contexto de disputa por terras e água, o tubérculo é ideal para plantar em pequenos espaços devido à sua versatilidade. "Dá pra comer batata mais vezes ao dias, com diferentes combinações. Diferente de alho, amendoim, cebola, etc", diz o presidente da Associação Brasileira da Batata (ABBA), Natalino Shimoyama.


G1

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