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Safra da castanha-do-pará registra forte queda devido à seca

Por Redação em 13/04/2025 às 08:06:20

A produção da castanha-do-pará, também conhecida como castanha-do-brasil e castanha-da-amazônia, registra forte queda na safra 2024/2025. A redução se deve a uma seca severa e ao aumento das temperaturas, agravados pelo fenômeno El Niño, registrados na maior parte dos sete Estados produtores.

O tamanho da quebra ainda está sendo apurado por pesquisadores da Embrapa, que monitoram a produção nos estados do Pará, Amapá, Roraima, Amazonas, Acre, Rondônia e Mato Grosso, mas os preços da castanha já reagiram, e alcançaram em março o valor recorde de R$ 220,00 pela lata de 20 litros, em alta de 266% sobre os preços comumente praticados, de R$ 60,00 por lata.

À primeira vista, a alta das cotações pode favorecer os produtores, mas Patrícia da Costa, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, destaca o risco de redução das compras por parte das indústrias. Foi o que ocorreu na última quebra de safra, ocorrida em 2017. À época, quando os preços da castanha atingiram R$ 180,00 a lata, as indústrias retiraram o produto de suas linhas de produção.

"A castanha geralmente é comercializada dentro de uma cesta de nuts. Se o preço fica muito alto, ela pode ser substituída outra semente oleaginosa", explica a pesquisadora. Neste contexto, há um esforço de produtores e representantes da cadeia de alertar a indústria que este é um evento temporário, com indícios de recuperação da produção já a partir do próximo ano.

Oscilações de preços

A ideia, segundo a pesquisadora, é evitar a instabilidade no mercado, como a ocorrida em 2018, ano que houve uma superprodução de castanhas em um momento em que a demanda industrial estava desaquecida, o que resultou em um grande excedente de produção, provocando uma queda acentuada nos preços, com a lata chegando a valer apenas R$ 25,00 no período

A produção de castanha, que oscila entre 35 mil e 40 mil toneladas por ano, é importante para toda a região amazônica, pois envolve diferentes povos, entre comunidades tradicionais, agricultores e famílias ribeirinhas. "É um produto muito importante para a sócio-bio-economia da Amazônia", diz Patrícia. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 60 mil pessoas dependem da castanha.

Desde 2017, o Observatório da Castanha, formado por um grupo de instituições, redes e coletivos, entre elas a Embrapa, organiza e amplia o alcance e a representatividade do Coletivo da Castanha, uma rede de extrativistas e organizações comunitárias que trabalha com castanha-da-Amazônia.

No Coletivo da Castanha, produtores trocam informações sobre produção, estoques, comercialização, tendências da safra e percepções sobre a cadeia de valor de forma a minimizar a assimetria de informações que prejudica a base produtiva da castanha-do-pará.

Quebra da safra

A região amazônica enfrentou um dos períodos de seca mais intensos dos últimos 40 anos, com destaque para o fenômeno El Niño que ocorreu entre agosto de 2023 e maio de 2024. Com isso, a baixa nebulosidade, a radiação solar intensa e o registro de queimadas prolongadas elevaram as temperaturas e reduziram significativamente a umidade do solo. Como consequência, a floração e a formação dos frutos da castanheira, que são sensíveis às variações climáticas, foram comprometidos, resultando na quebra da safra atual, informa a Embrapa.

O cenário se assemelha ao de 2017, quando houve uma queda expressiva na produção de castanhas em virtude também do El Niño de 2015/2016, que elevou a temperaturas em 2 °C acima da média e gerou um verão amazônico excepcionalmente seco.

Apesar do atual declínio, pesquisadores da Embrapa preveem uma possível superprodução na safra 2025/2026, um fenômeno já observado após a crise de 2017. "Esse aumento na produção ocorre porque as castanheiras tendem a compensar os períodos de baixa produtividade com maior frutificação nos anos seguintes, aliado aos efeitos climáticos do fenômeno La Niña", esclarece Patrícia.

Medidas de adaptação

Pesquisadores da Embrapa alertam que o manejo e a renovação dos castanhais são medidas urgentes, uma vez que as castanheiras mais velhas estão morrendo. "Uma delas é o corte de cipós, que melhora a resiliência das árvores, uma vez que permite que a copa fique melhor estruturada, a pode aumentar em até 30% a produção de castanheiras", diz Patrícia.

Os extrativistas mais experientes já adotavam essa técnica, "e conseguimos comprovar a partir de um estudo realizado ao longo de dez anos os seus benefícios tanto para a estrutura das árvores quanto para o aumento da produção", conta.

O modelo de manejo chamado "Castanha na Roça" também é recomendado. Ele concilia a agricultura com produção florestal. Experimentos mostraram maior densidade de regenerantes de castanheiras nas áreas de capoeiras (áreas abandonadas pela agricultura) e roças da agricultura itinerante do que na floresta madura.

O "Castanha na Roça" é um tipo de consórcio agroflorestal que faz parte da realidade local e é desenvolvida em duas vertentes: na capoeira abandonada e na roça. Esse sistema aproveita a regeneração natural das castanheiras em áreas de agricultura itinerante fora da floresta, promovendo a formação de novos castanhais.

"Essa estratégia, combinada ao plantio de árvores jovens mais resilientes às mudanças climáticas, pode garantir tanto a perpetuação da espécie quanto a produção sustentável de castanhas a longo prazo", conta Patrícia.

Cuidados no pós-colheita também são necessários. "A secagem rápida e uniforme das amêndoas após a retirada do ouriço, o armazenamento em local seco e arejado e o transporte adequado ajudam preservam a qualidade e também fortalecem a comercialização da castanha, garantindo segurança alimentar e valor agregado para os produtores", conclui a pesquisadora.


Fonte: GR

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