A distribuidora de insumos Agrogalaxy, em recuperação judicial desde setembro de 2024, aprovou na madrugada desta quinta-feira (10/4) seu plano em assembleia de credores. Apesar de reconhecer que o plano envolve prazos e condições que podem ser questionados por parte do mercado, o CEO, Eron Martins, afirmou em coletiva de imprensa que a empresa tem condições de cumprir com os pagamentos.
Martins destacou que o documento foi amplamente discutido e aprovado pelos credores. "Por mais que em algum momento a gente vai escutar adjetivos com respeito aos prazos, eu acho que foi discutido amplamente com os credores, os credores aprovaram. E naturalmente que quando você submete para aprovação é um plano que você tem condição de cumprir", disse Eron.
Para o advogado da recuperação judicial, Gustavo Salgueiro, que participou diretamente da assembleia, "compete justamente aos credores, que são os donos do crédito, decidir se eles preferem aquelas condições de pagamento que, é, podem não ser boas, mas é o que cabe no caixa da, é, da empresa", afirmou. Ele destacou que não cabe ao Judiciário interferir no mérito econômico do plano aprovado em assembleia, mas apenas garantir sua legalidade formal.
Apesar das ressalvas manifestadas por parte dos credores durante a negociação — incluindo votos contrários de instituições financeiras relevantes — Salgueiro avalia que o risco de judicialização do processo está significativamente reduzido.
Segundo o CEO da empresa, Eron Martins, a aprovação marca o início de uma nova etapa de diálogo com fornecedores. "A gente agora senta com os fornecedores para começar a falar de planos de negócios. A gente já tem agendas intensas com fornecedores desde já para fazer isso, visando justamente complementar o trabalho que já vinha sendo feito, visando a safra 2025/26, que já está andando na ponta, e também já falando alguma coisinha já de Safrinha", afirmou.
Em recuperação judicial, a empresa já havia adotado uma série de medidas para ajuste operacional, incluindo o fechamento de mais de 70 unidades, reduzindo o número de lojas quase pela metade. Eron não comentou se novas demissões ou encerramentos de lojas estão nos planos, mas destacou que a estratégia seguirá focada em racionalização de custos e ganhos de eficiência. "Melhorando cada vez o mix de venda, priorizando produtos de maior valor agregado, uma vigilância constante em cima de despesas. É importante, as vendas trabalham com margens mais apertadas e exige ainda mais uma gestão intensa do que são as despesas", afirmou.
No campo financeiro, o executivo reforçou o foco na gestão do capital de giro, incluindo ações para melhorar a carteira de clientes e o controle de estoques. "Cobrando as contas, melhorando o portfólio de clientes, buscando regiões com menor exposição de risco climático que acaba acarretando risco de recebimento. Mas também uma boa gestão de estoque, tendo níveis de estoque que permitam dar serviço ao produtor quando ele deficiente, mas também que não te gere um impacto grande alocando boa parte do capital do disponível em inventário."
Com a aprovação, o próximo passo será entender como cada credor se posicionará frente às alternativas de pagamento previstas no plano, o que permitirá à empresa estimar o montante final da dívida, já considerando os deságios.
O plano ainda depende da homologação da justiça, prevista para ocorrer em aproximadamente 30 dias. A partir desse ponto, a empresa poderá avançar com a execução das etapas previstas
A busca por fontes de financiamento também segue no radar. Mesmo com a resistência de parte dos bancos credores — alguns dos quais votaram contra o plano —, Martins avalia que há espaço para retomada das conversas. "Acho que dois bancos importantes votaram a favor do plano, então acho que é um bom sinal. Primeiro a gente vai sentar para conversar [com bancos] e, por outro lado, continuar fomentando essas ferramentas de mercado de capital". O plano aprovado prevê algumas condições para a conversão de créditos em ações da empresa e, também, de saldos em debêntures.
O CEO também mencionou que a venda de carteiras de recebíveis segue como alternativa relevante para reforçar o caixa e viabilizar a execução do plano. Em janeiro, a companhia informou em fato relevante a venda de um portfólio de dívidas vencidas e não judicializadas, no valor de cerca de R$ 760 milhões, com preço final sujeito a diligência. Já em abril, dois fundos apresentaram uma proposta vinculante para comprar créditos vinculados à revenda de insumos a produtores rurais.
A Agrogalaxy afirma manter otimismo com a retomada do setor, impulsionado por uma safra considerada positiva e por fatores geopolíticos que podem favorecer o agronegócio brasileiro.
"A gente tem uma safra recorde com produtividade muito boa na soja. Na safrinha, em algum momento teve um estresse hídrico em uma região ou outra, mas a chuva veio depois e compensou. Eu te diria que do ponto de vista produtividade, acho que a maioria dos produtores está feliz e se o produtor tá feliz, todas as revendas vão ficar felizes porque tem produto para entregar e pagar conta. Isso é muito positivo", afirmou o CEO.
Do lado da precificação, o executivo reconhece que o cenário ainda é volátil, especialmente diante de recentes movimentações envolvendo Estados Unidos, China e Brasil. Segundo ele, o conflito comercial entre os países afetou diretamente as cotações internacionais, mas também pode abrir oportunidades para o Brasil.
Segundo Martins, o prêmio — diferença paga ao produtor brasileiro em relação à cotação de referência — pode se beneficiar da instabilidade internacional. "Existe uma tendência que, se essa guerra persistir, o Brasil é a alternativa para fornecimento de soja para os demais países asiáticos, em especial a China, e com isso aumenta o prêmio, que gera uma perspectiva boa de prêmio e precificação da soja."
Ainda assim, o comportamento do produtor no mercado segue cauteloso. "O produtor ainda está esperando o último momento [para realizar as compras]. Acho que, primeiro, ele passou como todas as empresas do agronegócio por momentos de desafio em 2023 e 2024. Isso faz com que ele fique prudente na tomada de posição", disse. Ele mencionou que há uma expectativa de queda nos preços de fertilizantes, embora o cenário atual indique alta, o que adiciona mais incertezas às decisões de compra.
"Depois de um ano de safra boa, normalmente a moral e o espírito do produtor é muito mais positivo para iniciar a nova safra. Isso a gente teve e tinha dois anos que isso não acontecia. Então, as perspectivas são muito boas e vamos ver como é que se resolve agora essa história das batalhas aí entre os países, as batalhas ao pé do gás, batalhas de balanço comercial e como esse pacto do Brasil, te diria que tem uma chance de impactar bastante positivamente", conclui.
Fonte: GR