No mesmo dia em que o Carrefour se desculpou com o Brasil por questionar a qualidade da carne do Mercosul, a França voltou a declarar oposição total ao acordo de livre-comércio entre União Europeia e o bloco sul-americano.
A declaração aconteceu na Assembleia Nacional da França (parte do Parlamento francĂȘs), nesta terça-feira (26).
Ao criticar o acordo, que ainda não saiu do papel por falta de consenso entre os paĂses, a ministra da Agricultura francesa disse que a entrada de produtos que não seguem as regras necessĂĄrias é um risco à segurança sanitĂĄria, soberania e ao meio ambiente.
É uma afirmação semelhante àquela feita uma semana antes pelo presidente global do Carrefour disse, que resultou no boicote de frigorĂficos brasileiros às lojas do grupo no Brasil e no posterior pedido de desculpas do executivo.
Tudo começou quando, no Ășltimo dia 20, o CEO da rede de supermercados anunciou que a empresa não compraria mais carne do Mercosul. Posteriormente, o grupo esclareceu que a medida vale apenas para lojas na França.
O que mais irritou o governo e os produtores brasileiros foi ele ter citado, naquele comunicado, o "risco de inundação do mercado francĂȘs com carne que não atende às suas exigĂȘncias e normas". Uma fala semelhante à da ministra da França.
"Não é pelo boicote econômico. O problema é a forma com que o CEO do Carrefour tratou, o primeiro parĂĄgrafo da carta, da manifestação dele, que fala com relação à qualidade sanitĂĄria das carnes brasileiras, que é inadmissĂvel falar", afirmou o ministro da Agricultura, Carlos FĂĄvaro, antes de o Carrefour se retratar.
Em carta enviada a FĂĄvaro, nesta terça, Bompard afirmou que sabe que "a agricultura brasileira fornece carne de qualidade, respeito às normas e sabor".
O anĂșncio do CEO do Carrefour de veto às carnes do Mercosul, feito nas redes sociais de Bompard, foi direcionado especificamente aos agricultores franceses. Desde o inĂcio daquela semana, eles protestavam contra o governo da França e o acordo UE-Mercosul.
O assunto tinha voltado à tona naquela semana por causa da reunião do G-20, que acontecia no Rio de Janeiro.
Para valer, o acordo precisa ser confirmado por todos os paĂses membros dos dois blocos. Segundo especialistas no agro e na economia ouvidos pelo g1, os produtores franceses são contra porque temem perder mercado se o acordo começar a valer.
Isso porque o Brasil produz mais e, sem ter que pagar as taxas de exportação que a UE cobra atualmente, conseguiria oferecer preços mais competitivos do que os agricultores europeus. Saiba mais aqui.
Anne Genevard, Ministra da Agricultura da França critica acordo do Mercosul na Assembleia Nacional francesa.
A Confederação da Agricultura e PecuĂĄria do Brasil (CNA), que representa os produtores rurais, disse nesta terça que vai entrar com um processo junto à União Europeia contra o Carrefour e a Les Mousquetaires, outra grande rede de supermercados francesa que anunciou boicote à carne de paĂses sul-americanos.
A CNA entende que as medidas "podem caracterizar uma violação das regras de defesa da concorrĂȘncia da União Europeia", disse Carlos Bastide Horbach, o consultor jurĂdico da associação.