A 5ª edição do Observatório Suíno, relatório que acompanha a evolução dos compromissos corporativos em bem-estar animal na suinocultura, elaborado pela Alianima, organização não governamental de defesa animal, mostrou que as empresas fornecedoras de carne suína estão mais envolvidas com o tema do que as empresas do varejo e de alimentos.
Todas as empresas em operação no Brasil que, até o primeiro semestre de 2024, comprometeram-se a abolir as celas de gestação foram convidadas a participar da pesquisa. "Este ano também foram abordados outros aspectos importantes para o bem-estar dos animais, como o alojamento das matrizes na maternidade e a idade média de desmame dos leitões", explica Patrycia Sato, médica veterinária e diretora técnica da Alianima.
A veterinária conta que este é um momento delicado da produção, e que apesar de já ser alvo atenção, ainda possui pontos críticos com o intenso confinamento e desmame precoce.
A pesquisa deste ano entrevistou 33 empresas entre fornecedores e compradores que comercializam carne suína em suas cadeias de suprimentos, com aumento de 13,8% em relação à edição anterior. Destas, 8 eram fornecedores e 25 clientes compradores. O grupo de fornecedores respondeu à totalidade dos questionamentos sobre a condução da criação dos animais. Já entre as empresas a taxa de resposta foi de 45,5%.
É recomendado que, durante a gestação, que dura cerca de 115 dias, as porcas permaneçam em grupo para manifestarem seus comportamentos naturais. De acordo com dados do Observatório, as empresas avançaram neste compromisso. Atualmente a Aurora mantém 85% das porcas em baias coletivas durante a gestação, a BRF mantém 57% das gestantes em grupo, a JBS mantém 84%, a Pamplona alcançou 94%, e a Alegra, 44%.
"Entre os motivos que dificultam a transição do sistema individual para o coletivo, os produtores apontaram a falta de financiamento para a construção de novas instalações", conta.
Em 2023, cerca de 2,1 milhões de matrizes foram alojadas, das quais 42% estão alojadas em baias coletivas de gestação. As celas individuais de gestação causam sofrimento intenso às porcas, aumentam significativamente o nível de estresse e comprometem o sistema imunitário dos animais.
Um estudo realizado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, publicado em 2022, mostrou que com apenas cinco dias de confinamento em uma cela de gestação as fêmeas reduzem a diversidade da microbiota vaginal passada aos leitões no nascimento, afetando a absorção de nutrientes e proteção contra doenças dos recém-nascidos.
Por este e outros motivos o uso das celas na gestação de suínos foi proibida em diversos países. No Brasil, a Instrução Normativa 113, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), de 2020, que estabelece as boas práticas de manejo e bem-estar animal em granjas de suínos de criação comercial, prevê a eliminação das celas de gestação para os suínos até o ano de 2045.
Diante de tão longo prazo, empresas e cooperativas se comprometeram a eliminar as celas entre 2025 e 2029. "É fundamental que as empresas mantenham seus compromissos, uma vez que manter as celas de gestação pode ser considerado um atraso para todo o setor", diz Patrycia.
No ranking de transparência, que avalia a participação na pesquisa, as empresas Alegra Foods, Alibem Alimentos, BRF, JBS, Pamplona Alimentos foram apontadas como as mais transparentes entre os fornecedores por participarem de todas as edições do Observatório, iniciado em 2020. Já as empresas do grupo de clientes (varejo e alimentos) mais transparentes foram a Rede Bob´s, Dídio Pizza, Forno de Minas, Grupo GPA, Grupo Carrefour Brasil e Marfrig Global Foods.
Outro aspecto positivo evidenciado nesta edição foi que quase metade dos fornecedores participantes declarou a intenção de fornecer mais espaço físico para as porcas na maternidade, levando em conta a fragilidade dessa fase da produção, e que seria uma melhoria que não está nem prevista na IN 113. Além disso, 90% dessas empresas já estão adequadas, e algumas até superiores, à exigência dessa normativa em relação à idade média de desmame dos leitões e, pela primeira vez, 100% declarou que não realiza mais castração cirúrgica de machos sem uso de analgésicos ou anestésicos.
Em contrapartida, as outras práticas realizadas rotineiramente na maternidade não evoluíram de maneira relevante, como a abolição do desbaste de dentes e do corte de cauda. Da mesma forma, o uso de antimicrobianos também não reduziu expressivamente, permanecendo um desafio sistêmico para conciliar a manutenção da saúde dos animais e a atenuação dos impactos da utilização inadequada desses fármacos na esfera da Saúde Única.
Em relação às empresas do grupo Clientes (varejo e alimentos), o relatório deste ano obteve bem menos respostas, o que denota uma falta de comprometimento e transparência. "Uma questão repetidamente relatada no Observatório Suíno é a necessidade de implementar um sistema de rastreabilidade eficiente, para que as empresas compromissadas estejam aptas a conhecer a origem e características dos produtos que adquire", diz Patrycia.
Fonte: GR