O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária no segundo trimestre deste ano veio "menos pior" do que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) imaginava, mas dentro das expectativas. As quedas de 2,9% em comparação com o mesmo período do ano passado e de 2,3% em relação aos primeiros três meses de 2024, divulgadas nesta terça-feira (3/9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), ficaram levemente abaixo dos recuos de quase 2,7 e 3,2%, respectivamente, projetados pela entidade anteriormente.
As projeções da CNA, por outro lado, são menos pessimistas que as do mercado em geral na estimativa para o acumulado do ano. Enquanto o relatório Focus do Banco Central estima queda de 1,5% na economia do setor agropecuário no fechamento deste ano, a entidade calcula recuo de 1% no encerramento de 2024, ainda sem considerar os resultados divulgados nesta terça-feira pelo IBGE.
Renato Conchon, chefe do Núcleo Econômico da CNA, disse que o movimento de queda no segundo trimestre já era esperado e que faz parte da sazonalidade da atividade rural no Brasil. O período é marcado pelo fim das colheitas das principais culturas agrícolas do país e pela chegada do tempo seco em boa parte do país, o que já muda o cenário produtivo também na pecuária e marca o início da entressafra em regiões onde não é possível produzir com irrigação. Com menor produção (e vendas), o PIB agropecuário tende a cair nessa época do ano.
Além disso, segundo Conchon, o resultado também reflete o impacto do clima na produção de grãos, principalmente soja e milho, as duas mais relevantes do país.
Ele ressaltou também que a baixa no PIB agropecuário é explicada pela "régua alta" de comparação dos últimos anos, em que as safras foram recordes. De acordo com o IBGE, a economia da soja recuou 4,3% e o milho, 10,3%.
"A expectativa para o PIB do agro para este ano não era alvissareira. Não eram as melhores projeções, pois em 2022 e 2023 tivemos safras recordes, é difícil sustentar crescimentos robustos anos após anos", disse Conchon. "Neste ano, tivemos prejuízos por adversidades climáticas em regiões importantes. Pontualmente, quando se soma tudo isso, não é uma safra ruim, mas é menor que a do ano passado", explicou.
Apesar da tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul no período avaliado pelo IBGE para levantamento do PIB, as enchentes não geraram, por ora, impactos tão significativos nos principais números do setor agropecuário gaúcho, o que poderia se refletir nos resultados nacionais. Isso se deve ao fato de que a maior parte das lavouras de grãos do Estado já haviam sido colhidas no momento da tragédia.
Por outro lado, a CNA considera movimentos positivos como a expansão da produção de algodão (10,8%), arroz (1,9%) e feijão (7,1%), na comparação com o segundo trimestre do ano passado.
Com a queda registrada nesse segundo semestre, a participação da agropecuária no PIB do Brasil caiu de 7,1% apurada no primeiro trimestre deste ano para 6,9% agora. Mesmo assim, o resultado está acima da participação histórica do setor na economia em geral, que ficava em torno de 5,5% a 6%.
A maior participação percentual registrada até hoje foi no primeiro trimestre de 2021, quando a agropecuária representou 11,3% do PIB do Brasil, comentou Conchon.
O crescimento de 1,4% no PIB do país apontado pelo IBGE surpreendeu positivamente a CNA, principalmente por ele ter sido impulsionado pela demanda. "O consumo das famílias subiu, teve aumento real do salário mínimo e dos benefícios sociais e queda na taxa de desemprego", disse. O sinal amarelo, segundo ele, foi a alta registrada nas importações (14,8%), na comparação com segundo trimestre de 2023, na esteira desse aumento do consumo familiar. O aumento do consumo do governo também é motivo de alerta.
Houve ainda o aumento do investimento no país, o que pode ser benéfico no médio prazo para o aumento da produtividade geral, disse Conchon. "A formação bruta de capital fixo subiu, e isso é importante, porque os empresários estão investindo em novas tecnologias, seja para repor maquinário obsoleto ou fazer investimentos em novos. É número importante, traz tranquilidade, pois melhora a nossa produtividade no futuro", comentou.
Fonte: GR