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Cargill teve lucro recorde no Brasil em ano "sem concorrência" para o país


"Em 2023, a gente [o Brasil] não tinha concorrência. Ao contrário, havia fila de clientes querendo comprar produtos de origem brasileira, que é o que tinha" no mercado internacional. Assim Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil, descreve, à reportagem, o cenário do mercado de soja no ano passado, que levou a companhia a registrar resultados históricos.

O lucro líquido da maior empresa do agronegócio no país dobrou e atingiu o recorde de R$ 2,5 bilhões em 2023. A receita operacional líquida teve leve alta, saindo de R$ 125,8 bilhões para R$ 126,4 bilhões, também recorde, reflexo de um volume de comercialização que alcançou 51 milhões de toneladas, quase 25% superior ao de 2022.

O número inclui todas as mercadorias originadas, processadas e comercializadas pela Cargill, mas soja e milho representam os maiores volumes. E o forte crescimento em relação ao ano anterior se deveu justamente ao aumento das vendas de soja e milho, de acordo com Sousa.

A safra recorde de soja no Brasil em 2022/23, que alcançou 154,6 milhões de toneladas, é uma das explicações para o resultado do ano passado. Mas houve mais. Preços altos de grãos no mercado internacional, em função de incertezas geradas pela guerra na Ucrânia e da quebra da colheita de soja na Argentina, completaram o cenário que levou a Cargill a margens de esmagamento de soja também recorde, como média anual.

Enquanto a Argentina viveu uma "tragédia climática", com quebra de mais de 50% da safra, o " Brasil teve um bônus climático", nas palavras de Sousa. Houve "muito chuva no período mais importante de formação das safras, não só de verão quanto da safrinha", observou em entrevista à reportagem. O clima favoreceu a safra recorde e fez o Brasil ocupar espaço da Argentina, que disponibiliza oferta no mundo no mesmo momento em que os produtores brasileiros.

"No Brasil, o produtor com um preço internacional que ele adorava vender, ficou mais feliz ainda por vender porque ganhou de presente de São Pedro um monte de saco de soja e um monte de saco de milho por hectare, que ele não esperava", diz o presidente da Cargill. Nesse ambiente, o Brasil ficou mais competitivo no mercado global e vendeu soja até para a Argentina, principal concorrente em farelo e óleo.

Segundo Sousa, o Brasil estava tão competitivo e o mercado de farelo e óleo tão demandado, "sentindo falta da oferta argentina", que ficou viável para o país vizinho importar a soja brasileira para processar e exportar como óleo e farelo.

O executivo não faz projeções para a Cargill no Brasil este ano, mas é assertivo ao dizer que o desempenho não se repetirá porque os fundamentos mudaram, sobretudo com a normalização da safra na Argentina. Além disso, ele avalia que "a safra brasileira no geral não é tão pior que no ano passado". Assim, "a América do Sul como um todo tem hoje entre 20 e 30 milhões de toneladas a mais de soja produzidas do que em 2023".

Nesse novo cenário, as margens de esmagamento da Cargill hoje são a metade do que alcançaram no mesmo período de 2023. Além do quadro de maior oferta, que fez os preços recuarem no mercado internacional, a China, principal cliente da soja brasileira, também está comprando da "mão para a boca", segundo Sousa. Muito diferente do ano passado quando antecipou compras para garantir que teria o produto.

Outro número inédito na Cargill no Brasil em 2023 foi o investimento: foram R$ 2,6 bilhões, 116% mais que no ano anterior.

De acordo com Sousa, a maior parte dos recursos foi destinada à aquisição das processadoras de soja e de produção de biodiesel, além de armazéns, da Granol, em agosto de 2023. Também houve aportes em melhorias de eficiência nas fábricas existentes, portos e armazéns e no segmento de nutrição animal de suínos e de bovinos de corte.

Com as novas unidades de esmagamento, a Cargill se tornou uma das maiores produtoras de biodiesel do país, segundo o executivo. Para este ano, a empresa prevê investimentos acima da média dos últimos cinco anos, mas abaixo de 2023. E parte desses recursos terá como foco aumento capacidade e melhoria eficiência de fábricas das compradas da Granol, diz Sousa.

Mas não só. A empresa também deve investir em infraestrutura e logística, como um porto novo em Porto Velho (RO), para escoamento de grãos.

Todos os investimentos revelam o otimismo da empresa em relação ao agro nacional, mas Paulo Sousa vê desafios para o setor. A questão ambiental é um deles. Embora considere que "muita coisa melhorou (...), que o governo atual faz um trabalho excelente, que deve ser feito, na verdade, em relação ao combate ao desmatamento ilegal", Sousa diz que o "meio ambiente continua sendo o grande desafio do agro brasileiro em termos globais, de aceitação e de risco real mesmo com nossa marca".

Sobre a lei antidesmatamento da União Europeia, que visa impedir a importação de produtos de áreas com desmate, Sousa avalia que o Brasil terá de se adaptar para manter seus mercados. Para ele, a lei cria um problema para a UE. A lei "vai levar a um reposicionamento de fluxo de produtos, muitas vezes não econômicos e não eficientes, criando mais emissão [de carbono], para atender um objetivo colocado", afirma.

O executivo diz ainda ver uma preocupação "grande" dos fornecedores da empresa em relação ao direito de propriedade no Brasil, devido a riscos de invasão de terras. Há "um grau de desconfiança muito grande de parte dos fornecedores em relação a essa segurança jurídica de crescer e comprar área, de colocar mais dinheiro no setor no momento em que vê o direito de propriedade não tão assegurado quanto ele gostaria".

Outro desafio, na visão dele, é o crédito para o setor. Como os recursos disponíveis — públicos e privados — são insuficientes, o setor precisa "do mercado financeiro", que ganhou importância nos últimos anos na oferta de crédito. Sousa, que tem criticado a onda de pedidos de recuperação judicial entre produtores, diz que "se o capital que chegou agora for maltratado, ele não voltará".

Globo Rural

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